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Visitante participando da oficina Micromundos no Museu Exploratório de Ciências da Unicamp. |
Parece mais difícil apresentar performances de impacto se precisarmos explicar o processo científico subjacente. Muitos resultados científicos que impressionam podem ser complexos e difíceis de explicar, o que nos deixa tentados a ficar somente na maravilha dos resultados. Este é um desafio, especialmente em um museu de ciências, tal como o que eu trabalho1, porque muitos visitantes têm a expectativa de “se divertir” no museu ou exposição.
Deve-se considerar que uma performance que apresenta resultados maravilhosos da ciência, em que os expectadores não entendem o que acontece por detrás das cenas, pode ter um efeito equivalente a uma apresentação de mágica. É esta a impressão que queremos transmitir?
De que modo a forma como apresentamos ciência para as pessoas afeta a maneira como elas veem e criticam a ciência hoje? Esta questão pode ser estendida também para a forma como ensinamos ciência.
Não há dúvida de que o papel dos museus e exposições de ciência é mais amplo, tornando-se uma oportunidade de se conhecer o mundo pelas lentes da ciência. Mas a questão é o quanto estamos nos esforçando para não dissociar esta tarefa do que se chama em inglês de scientific literacy (ainda não encontrei uma tradução adequada, mas alguns aproximam para “literacia científica” ou grosseiramente para “alfabetização científica”).
A literacia científica expressa uma habilidade de pensamento crítico e autônomo sobre ciência, suas descobertas e resultados. Isto inclui a capacidade de interpretar fatos e dados, de entender o processo científico, suas características, qualidades e limitações. Também expressa a capacidade de perceber como a ciência e o conhecimento científico podem nos ajudar a saber mais sobre o mundo e a tomar decisões do dia a dia. Literacia científica deveria ser tratada como a ponte para o conhecimento do mundo pelas lentes da ciência.
Mesmo ciente deste desafio, me dei conta do quanto eu estava despreparado para enfrentá-lo ao enveredar na empreitada de apresentar ciência para visitantes do museu. Este conjunto de ensaios que chamo de Componentes da Ciência abordam questões neste contexto. Eles são fruto de experiências práticas, interações e debates com colegas de ciência e do museu.
1. O autor deste blog é, na data de escrita deste post, diretor educacional do Museu Exploratório de Ciências da Unicamp.