quarta-feira, 20 de julho de 2011

Persepolis

Confesso que eu nunca tinha dado muita bola para esta estória em quadrinhos. Uma olhada rápida dá a impressão de um desenho tosco em preto e branco (não minta pra mim, você também faz estes julgamentos superficiais de vez em quando!). Ela despertou meu interesse quando vi o final do longa-metragem, gravado a partir da estória. Não vi o filme completo, mas li o livro.

Trata-se de uma autobiografia de Marjane, iraniana da minha geração, que viveu revoluções e guerras no Irã, morando um período na Áustria. A ida à Áustria traz um contraste interessante. Nos permite refletir sobre como-os-orientais-percebem-como-os-percebemos.

Os livros envolvendo oriente, islamismo e condição das mulheres têm se tornado cada vez mais populares. Dentre os que li, Persepolis está entre os melhores, ao lado de Neve de Orhan Pamuk (é claro que são duas obras completamente diferentes). A estória se afasta dos estereótipos ocidentais (de bandido e mocinho) sobre o oriente e o islamismo, trazendo uma perspectiva de quem viveu os acontecimentos em primeira pessoa.

Marjane consegue manter uma narração leve e bem humorada, em meio ao conturbado cenário em que ela se desenvolve. O mais fascinante é a possibilidade de acompanhar o vaivém de ideais e governos pelos olhos de uma menina, que ora abraça uma ideologia, ora abraça outra; se encanta e se frustra, compartilhando conosco a eterna busca pela felicidade.

Não é um livro de grandes heróis, resgates hollywoodianos, lições de vida da sabedoria oriental, ou encontro da alma gêmea. Somente vida na sua embalagem original; meu tipo preferido de livro.