sexta-feira, 31 de maio de 2013

Desafiando o Real

Arte de rua de Banksy
“[…] eu não sabia que era permitido a alguém escrever coisas como aquela.”

Eu não entendo muito de arte, principalmente em se tratando de arte contemporânea. Mas eu gosto. Principalmente da contemporânea. Este ano eu visitei uma exposição especial com uma ampla coleção de obras de Salvador Dalí no Centro Pompidou. Seguindo sua cronologia e o modo como ele progressivamente dobra o real, eu pensei: ele quer quebrar alguma coisa. Gosto de pensar sobre arte como uma tentativa de quebrar alguma coisa. Não como atirar uma pedra em uma janela, mas como dobrar o mundo da janela.

Não é sempre fácil distinguir a rebelião pura da arte. Isto foi o que pensei a primeira vez que vi uma arte de rua de Banksy. É impressionante como ele atenta contra o real em uma perspectiva diferente. O real como o modo que vemos e organizamos a sociedade, nossas vidas, as leis, o certo e o errado. Sua rebelião fala conosco em sua arte. É uma autentica intervenção social, que nos desafia.

Onde podemos ir deste modo? Eu ofereço uma síntese, que tomo emprestada de Garcia Marquez:

“Eu voltei à pensão em que estava hospedado e comecei a ler A Metamorfose. Na primeira linha lê-se, 'Quando Gregor Samsa acordou aquela manhã de sonhos inquietos, ele se encontrou transformado em sua cama em um inseto gigante...' Quando eu li a linha eu pensei comigo mesmo que eu não sabia que era permitido a alguém escrever coisas como aquela. Se eu soubesse, eu teria começado a escrever há muito tempo.”, Gabriel Garcia Marquez em entrevista, The Paris Review, 1981