domingo, 16 de setembro de 2012

A Misteriosa Baleia Azul


Como tornar seu domingo mais feliz visitando a Baleia Azul no Lago, perto da sua casa

Sinto muito, a baleia não está perto da sua casa =(

Mas o propósito deste post é perguntar: por que mesmo você resolveu ler esta mensagem, ou clicou em um link que o trouxe a ela?
  1. Você achava que teria um domingo diferente se você visitasse a Baleia Azul.
  2. Você não podia acreditar que existe um parque tão legal perto da sua casa.
  3. Você gosta de baleias.
  4. A fotografia era bonita e você resolveu ver o que, afinal de contas, era aquilo.
  5. Esta imagem lhe transmitiu uma sensação inexplicável de coisas felizes.
  6. Você não tem a menor ideia =)
Seja lá o que for, você caiu na mesma armadilha que eu. Comecei a minha busca em Campinas...


... passei em Cleveland, depois Siracusa, seguindo para Portland e finalmente Catoosa, onde vive a charmosa baleia =)

Mas, no final, o importante foi a sua iniciativa de pensar em sair de casa e tornar o seu domingo mais feliz.

sábado, 15 de setembro de 2012

A Sociedade do Eu I

Nanshiungosaurus by Lady of Hats, on WikiMedia
O dinossauro finalmente renasceu no século XXI. Clonado. Mas tudo bem. Deu seu primeiro passo e mais dois sobre o cimento. Rodopiou. Ploft! "Ploft?" "É. Ele estatelou-se no chão e morreu." "Tem certeza que você fez tudo certo?" "Como assim?" "Você tirou direito aquele DNA do pernilongo no âmbar?" PS: não se iluda, esta não é uma conversa sobre dinossauros, é sobre você.
--- corta ---
O sujeito começa a correr. Trilhões de células precisam se reorganizar. Mensagens químicas correm o corpo avisando: mais energia, mais oxigênio. O coração dispara, o ritmo da respiração aumenta.

Você tem o direito de perguntar: o que finalmente o sujeito correndo tem a ver com o dinossauro? Ok, ok, eu forcei um pouco a barra pra colocar um dinossauro na estória. Mas, acredite em mim, eu vou ligar as pontas.

Imagine que você tem um enorme exército a sua disposição e quer treiná-lo para torná-lo imbatível, o que você faz? Os espartanos já tinham esta resposta há séculos atrás: você treina seus homens para que atuem todos juntos, como se formassem um único corpo. Homens alinhados, escudos alinhados, movimentos combinados; vários pequenos homens se tornam um poderoso ser maior, mais potente que a soma dos homens. Espartaaaa!!! grita o rei Leonidas para seus 300 homens, que se lançam para enfrentar centenas de milhares.

Me acompanhe em uma continha: 75 trilhões -- este é o número aproximado de células do seu corpo. Quanto é isso? Considere que a Terra inteira tem aproximadamente 7 bilhões de pessoas. Agora pense comigo no tanto de gente que isto implica. Cada operário e agricultora, cada família e ciclista, cada pessoa em escritórios, teatros e shows. Se a população de células, apenas do seu corpo, fosse comparada ao número de pessoas da Terra, é como você tivesse 10 mil indivíduos para cada pessoa que existe na Terra.

Há uma impressionante logística para alimentar, organizar e reparar 75 trilhões de células, capaz de se adaptar a dietas e exercícios arbitrários, seja porque você quer alcançar aquele padrão de beleza idealizado, seja porque quer comer à vontade e se deixar largado no sofá o dia inteiro. E este é só o começo, a quantidade de variações é imensa. Um belo dia, por exemplo, você decide que vai se queimar ao sol, elevando repentinamente a temperatura do corpo.

O maior truque de todos é que você pensa que estes trilhões são uma coisa só: você. Este truque é essencial. Você nunca viu paralelo em nossa escala de mundo. Manobrar trilhões de indivíduos simultaneamente para agirem como se fosse um só. Você decide que quer correr e um neurônio grita lá de cima Espartaaaaa!!!! e trilhões de células entram em formação em segundos. Mas isto, então, é uma ditadura? Alguém (você) comanda estes trilhões com mão de ferro? Aí está uma coisa curiosa: algumas vezes se parece com uma ditadura, algumas vezes não.

Se parece com uma ditadura quando você resolve, por exemplo, emagrecer drasticamente. Retornando à comparação com a população da Terra, considere a infraestrutura para alimentar meros 7 bilhões de pessoas, envolvendo plantações, gado, indústria, navios e estradas. Tudo exige planejamento e dimensionamento. As plantações são dimensionadas prevendo o consumo de alimentos e há pessoas trabalhando em todos os setores para fazer alimento chegar (bem ou mal) a 7 bilhões. Em um paralelo com o seu emagrecimento drástico, vamos eliminar, digamos, quinhentas mil pessoas de uma só vez da Terra. O que você acha que vai acontecer? São só as quinhentas mil pessoas que serão afetadas? E as plantações, gado, indústria, comércio, sistemas de transporte, de saúde que atendiam a estas quinhentas mil? O que acha que farão? Não é a toa que seu corpo fica desorientado. Quem avisou à administração central?

Mas se é uma ditadura, quem é "a" célula que dá as ordens? Há muitos anos, eu li um livro chamado A Sociedade da Mente, em que Marvin Minsk descreve a nossa mente como uma sociedade de pequenos agentes que interagem. Me parecia uma coisa pouco provável, já que eu mesmo me sentia como uma coisa só. Em seguida estudei o engenhoso funcionamento dos neurônios. Um estímulo dispara uma carga, gerando um desequilíbrio em uma complexa rede de neurônios. É como uma pedra que cai em um lago. As ondas se propagam a partir do ponto de estímulo mas, no caso da rede de neurônios, o trajeto não é comportado como os círculos do lago; ele depende da topologia da nossa rede e do estado de cada neurônio, que varia de acordo com as memórias que temos, as experiências que vivemos, as coisas que aprendemos. Este trajeto único produzirá um resultado em nossa mente: pode ativar uma resposta, ou modificar o estado dos nossos neurônios, registrando, por exemplo, uma memória.

Isso não se parece com uma ditadura, mas um intrincado movimento coletivo. A consciência que se materializa como o "eu" pode ser um fenômeno emergente, ou seja, um comportamento que se parece com um corpo único e que "emerge", como uma coisa nova, a partir da interação das unidades menores. Se analisarmos apenas as unidades menores individualmente, ou seja, se olharmos apenas para cada neurônio, não é possível entender como se forma a consciência. Por esta razão dizemos que a consciência emerge apenas no momento em que os neurônios interagem. Podemos fazer um paralelo com a água. Se analisássemos apenas as moléculas de H2O individualmente, não seríamos capazes de inferir o comportamento da água, que emerge como um corpo só a partir da interação de incontáveis moléculas de H2O, entre elas e com o mundo.

Agora se parece mais com uma negociação que com uma ditadura. Um trilhão de células lhe diz de manhã, acorda sujeito! Enquanto outro trilhão quer dormir mais um pouco. Outro trilhão quer comer mais, enquanto uns bilhões dizem chega, chega! No final quem decide? E o que é que afinal chamamos de vontade e força de vontade? Será, por exemplo, uma capacidade de negociação que desenvolvemos? Essa é uma questão interessante.

Mas o que tudo isso tem a ver com o dinossauro? Esta foi uma armadilha que preparei, pois só vou falar dele em "A Sociedade do Eu II" =) Mas se prepare, pois esta estória complica, já que pesquisas recentes têm demonstrado que temos dez bactérias para cada célula do nosso corpo (750 trilhões???). Mas a coisa fica mais curiosa, na medida em que se descobre que elas têm papeis essenciais no funcionamento do nosso organismo. Afinal, quem é você? Ou o que é você?